domingo, 4 de julho de 2010

KYUDO - O caminho do arco




Essa talvez seja a arte marcial mais Zen por sua própria prática, já que a precisão de uma flecha se obtém por um condicionamento de tranquilidade e calma e não por explosão física como outras artes marciais. Os arqueiros sempre foram usados em guerras, no Japão então eles tiveram um destaque e tanto, treinados na arte do Kyujutsu, a técnica do arco, quando a paz finalmente alcançou o Japão, o Jutsu se tornou Do, a técnica pela técnica se tornou uma senda, um caminho a ser seguido, um meio para se atingir um objetivo maior, que para os japoneses é o auto-entendimento e perfeição através das técnicas marciais.
As cerimônias e rituais que envolvem essa arte permanecem inalteradas até hoje.
A doutrina do Kyudo está altamente agregada ao estudo do Zen, Kyudo é uma arte altamente formalizada e o definitivo alvo do praticante é competir consigo mesmo. Com a concentração apropriada, praticante e arco se fundem, quando se tornam um só, aí sim, e somente aí, a flecha pode ser liberada, no Kyudo não importa o quão precisa é a flecha no alvo, ou como se atingiu o alvo, isso é apenas consequência. O importante é como esse tiro é feito e em que estado a mente se encontra quando a flecha é solta. No Japão Kyudo é uma combinação de arte física e filosófica sob os princípios do Zen Budismo. existe não por acaso, mais ênfase nos conceitos Zen, talvez mais até que no Kendô.
Diferente dos arcos e flechas européias, o arco japonês é bem maior, aliás o maior do mundo, geralmente com mais de seis pés( 2 metros ), feito de bambu, ainda com o mesmo design do Japão feudal, ao puxar a flecha a posição não é centralizada como em outros tipos de arco e flecha, que mede em geral, mais de um metro. A corda é feita de fibras vegetais, como cânhamo, o praticante geralmente está com outra flecha segura na mão que segura o arco, para já ter uma em mãos para um segundo tiro.
Se na Inglaterra temos o lendário Robin Hood e na Suiça o famoso William Tell, o Japão tem Nasu no Yoichi,. em 1280, quando clãs guerreiros competiam pela supremacia, dois grandes clãs se enfrentaram numa decisiva batalha, ocorrida na costa do Japão, num lugar chamado Yashima. Um dos clãs, Genji, tinha planejado dirigir os inimigos para o mar. Da ponte de comando do barco do inimigo o líder do clã Heike, ria alto caçoando dos samurais do clã Genji, esse lorde dos Heiki, tinha em seu barco um leque dourado com o emblema do clã Heiki e desafiava os samurais na praia que o atingissem se fossem capazes, mesmo com o barco balançando, longe no mar, Nasu do Yoichi aceitou o desafio e armou seu arco, cuidadosamente mirando na embarcação, DIZ A LENDA que ele soltou a flecha que atravessou o mar acima das ondas, por aproximadamente 400 jardas( mais ou menos 360 metros ) e atingiu o leque exatamente no pino que segura todas as varetas, sem o pino, o leque se desmanchou e caiu no mar em pedaços. Os soldados Heike teriam perdido a vontade de combater e acharam que isso foi um sinal de mal agouro para a batalha, os soldados do clã Genji, teriam, sido motivados para a batalha por causa do feito de seu companheiro Nasu e furiosamente lutaram contra os inimigos, o clã Heike foi completamente esmagado.
O Kyudo hoje é praticado por mais de meio milhão de japoneses. É uma prática muito apreciada pelas mulheres devido a graça de movimentos e tranquilidade que essa prática oferece aos praticantes.
Aquele que abraça a arte do arco e flecha precisa estar preparado para anos de treinamento, pois geralmente um estudante de Kyudo deve aprender como respirar apropriadamente, como relaxar, como adotar a postura correta, como deixar sua mente calma e concentrada e tudo isso por aproximadamente DEZOITO MESES, antes de lançar sua primeira flecha, pois é um caminho de esclarecimento, uma via de iluminação além de uma prática esportiva. Mas competidores existem no Kyudo, com o objetivo de fazer os melhores pontos em alvos, mas esses geralmente, representam algo como o velho oeste da prática do Kyudo, e óbvio, são altamente desaprovados pelos praticantes mais ardentes e tradicionalistas.

Fonte:
Martial Arts of the Orient, Peter Lewis, 1993, fotos: Camerapix Hutchison

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